sábado, 19 de maio de 2012

Inversão de valores

Nascido numa época em que muitos pais se espelhavam em personalidades estrangeiras para dar nomes aos seus filhos, Richard vivia uma realidade muito distante da de uma celebridade. Casas pequenas, sem acabamento adequado, ruas estreitas, esgoto a céu aberto... Estes eram apenas pequenos detalhes no cotidiano daquele garoto acostumado a vivenciar coisas horríveis acontecerem quase que diariamente nas proximidades de sua casa. Quantas vezes presenciou incursões de policiais fortemente armados morro acima, vasculhando e invadindo casas, algumas vezes usando de groceria e violência -não raras vezes invadiam casas de gente de bem, dando a entender que só pelo fato de morarem na favela estas pessoas se tornavam automaticamente suspeitas-. Também não raras vezes presenciou os policiais no estrito dever de suas funções, serem recebidos a tiros e na ação de auto-defesa revidarem à altura, e sempre quando isso acontecia, corpos esticados pelo chão era garantido. Richard se angustiava, e não entendia porque tudo isso acontecia, justamente ali aonde ele morava? Onde também viviam seus melhores amigos, porque eram impedidos de brincar livremente nas ruas, ou na área de lazer? Sendo que ali eram os únicos lugares úteis e com espaço para se brincar, já que dentro de casa o espaço era reduzido? Ele se revoltava porque todas as vezes que isso acontecia, seus pais o trancafiava como se ele tivesse feito alguma coisa de errado, e o privavam de exercer o seu pleno direito de brincar com seus amigos. Certa feita, depois de mais um dia de alvoroço, e logo após ouvir de seus pais, pela centésima vez a ordem de não sair de casa, Richard os questiona: porque toda vez estes policiais vem aqui para perseguir a nossa comunidade? Porque perseguem tanto o Cabelo e seus amigos? Logo o Cabelo que tanto nos ajuda, e tanto faz por nossa comunidade? Só porque ele é rico e foi ele quem fez a nossa praça de lazer, e sempre distribui alimentos para o nosso povo? Isso é inveja né pai? Nenão mãe? Diante do silêncio dos seus pais ele conclui. Eu sabia, quando eu crescer não quero ser um policial...

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