O Sabiá sabia assobiar
Voltar para o aconchego do lar e dormir, depois de uma longa madrugada de trabalho, eram as únicas coisas que passavam pela minha cabeça, nesta noite fria. No meio do caminho fui despertado pelo lindo o canto de um sabiá, em plena selva de pedra. Era um macho mostrando todo seu charme para fêmea. Em pleno inverno, tudo parecia primavera na época da reprodução.
Aquela cena me trouxe uma recordação antiga. Lembrei na mesma hora do Tuffic, um filhote de sabiá branco que escapou da fúria dos gatos do meu tio Zé, um criador inveterado de animais. Machucado, o Tuffic precisava de cuidados, o que fiz com muito carinho. Até comida em sua boca eu dei.
Todo este esforço valeu a pena. Tuffic cresceu, aprendeu a voar e, o mais importante, conseguia sobreviver. Não deu outra, devolvi ele para a natureza, com sucesso, afinal era mesmo o seu lugar. Minha maior recompensa era que de vez em quando ele vinha nos visitar. Pousava na nossa varanda e mostrava que o sabiá sabia assobiar. Ficávamos horas ali admirando seu canto gracioso.
Mas num dia deste, nossa varanda ficou silenciosa e os nossos corações apreensivos. Foi uma brincadeira muito infeliz. Meus filhos brincavam de atirar pedras e não tiveram dúvidas quando viram o bichinho pousar no seu lugar de sempre.
São passados dois anos que vi aquelas penas espalhadas por uma pedra que vitimou o Tuffic, que escapou com sucesso dos gatos e não teve a mesma sorte com meus filhos. Se vivo estivesse estaria cantando alto e jogando todo seu charme nas fêmeas da nossa cidade verde!
Fábio Silvestre
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